Vendo como vemos…O Show de Truman
O filme O Show de Truman, o ator Jim Carey faz um papel de um homem cuja a vida, desde o seu nascimento, é um espetáculo de televisão visto por milhões, mas ignorado por ele próprio. De seu ponto de vista, ele apenas vive a sua vida.
No meio do filme, um grupo de repórteres entrevista o “diretor”, um personagem todo-poderoso, interpretado por Ed Harris que literalmente determina a existência de Truman – se vai chover ou fazer sol, o enredo do episódio da próxima semana, se as coisas serão boas ou más para ele. Um dos entrevistadores pergunta ao diretor: Como o senhor explica o fato de Truman nunca ter percebido que sua vida é apenas um programa de televisão? E o diretor responde: “Todos nós aceitamos a realidade tal qual nos é apresentada”
Os problemas oriundos da atitude de considerar “inequívoca” nossa percepção diária são tudo, menos “simplesmente filosóficos”, em especial quando o mundo está mudando.
No início dos anos de 1980, executivos da indústria automobilística dos Estados Unidos, passaram a viajar regularmente para o Japão a fim de saber por que os fabricantes japoneses estavam se saindo melhor que seus concorrentes americanos.
Após uma dessas visitas, os americanos não se impressionaram muito com a concorrência. “Eles não nos mostraram nenhuma fábrica de verdade”. Não havia em parte alguma, estoque de peças. Já vimos muitas montadoras e aquelas não eram de verdade. Foram encenadas para nós.
Em poucos anos, ficou dolorosamente óbvio que essa afirmação era um equivoco.
Os administradores americanos se viram diante de um sistema de produção just in time radicalmente diferente dos sistemas de produção que lhes eram familiares e não estavam preparados para ver o que lhes era mostrado.
Não podiam conceber uma montadora sem pilhas enormes de peças em estoque. O que viram ficou limitado pelo que já conheciam. Não tinham desenvolvido a capacidade de olhar com novos olhos.
Esse problema, contudo, é universal. Boa parte das iniciativas de mudança que dão em nada, não fracassa por falta de perspectivas amplas e nobres. Fracassam porque as pessoas não conseguem enxergar a realidade à sua frente.
Estudos sobre mortalidade empresarial revelam que muitas companhias Fortune 500 não vão além de umas poucas gerações de administradores, não por lhe faltarem recursos, mas por serem incapazes de “ver” as ameaças que enfrentam e o imperativo da mudança.
Os sinais de perigo estão aí e muitos conseguem identificá-los. E, no entanto, por algum motivo, não conseguem penetrar o sistema imunológico da empresa, que se protege do desconhecido.
Reflita, amadureça e se necessário releia este e o e o artigo anterior. No próximo artigo, vou citar um método (exercício) para facilitar, penetrar aos poucos, em nosso sistema imunológico, que nos protege do desconhecido.
Até breve.
Cristina Gomes