O advogado e as passas
Como litigante, o advogado alimentou sua carreira ao mobilizar uma raiva efervescente pelas injustiças sofridas por seus clientes. Energizado pela indignação, era incansável na defesa de seus casos. Fazia suas argumentações com envolvimento absoluto, passava noites em claro, pesquisava e se preparava. Com frequência, ficava deitado na cama, acordado, a maior parte da noite, espumando, enquanto revisava várias vezes as aflições dos clientes e planejava sua estratégia jurídica.
Então, durante suas férias, conheceu uma mulher que dava aulas de meditação e pediu a ela que o ensinasse. Para sua surpresa, ela começou dando a ele algumas uvas-passas. Ela então o guiou a comer uma das passas lentamente, com foco total, saboreando a riqueza de cada momento daquele processo: as sensações de quando ele a levou até a boca e mastigou – a explosão de sabores ao mordê-la, os sons do ato de comer. Ele submergiu na completude de seus sentidos.
Assim, da maneira que ela o instruiu, ele voltou aquele mesmo foco totalmente centrado no momento para o fluxo natural de sua respiração, liberando todo e qualquer pensamento que passasse por sua mente. Com a orientação dela, ele continuou essa meditação sobre sua respiração ao longo dos 15 minutos seguintes.
Conforme foi fazendo isso, as vozes em sua mente foram silenciando. “Foi como acionar um interruptor para um estado zen”, ele disse. Gostou tanto daquilo, que transformou em um hábito diário: “Depois que termino, me sinto calmo e gosto muito disso”.
Quando voltamos essa atenção completa para os nossos sentidos, o cérebro silencia sua conversa padrão. Exames celebrais realizados durante a atenção plena – a forma de meditação que o advogado estava experimentando – revelaram que ela acalma os circuitos cerebrais para conversas mentais com foco no eu.
* Texto extraído do Livro FOCO de Daniel Goleman
Em coaching, uma das habilidades que trabalho com meus clientes é exatamente isso. A “variável” da ação que se pretende.
Por exemplo, se o cliente quer melhorar sua comunicação, eu questiono o modo como ele pretende melhorar sua comunicação, e uma das respostas que ouço é: ouvindo mais! Então, eu segmento as perguntas até o cliente me dizer “como” realmente ele vai ouvir mais. Como coach eu preciso de uma resposta observável. Uma das melhores respostas que ouvi até hoje foi: “Olhando diretamente nos olhos da pessoa que eu estou ouvindo”. Um dos meus clientes foi mais longe, respondendo: “olhando no branco dos olhos da pessoa que estou ouvindo”.
Podemos observar nossa respiração, postura, visão, tensão, o sabor do alimento, da passa, apenas observar e entrar em estado de meditação e atenção no atual momento , tirando o foco e a tensão do objetivo e saborear a melhor parte: o aqui agora.
Escolha uma variável para observar, apenas observar, em situações que queira melhorar.
Qual será sua variável de hoje?
Cristina Gomes